Ainda hoje, as crianças de minha família ficam muito excitadas com essa festa. Querem logo acender a fogueira, dançar a quadrilha, ver os fogos de artifício e comer as guloseimas de época. Fico muito feliz em ver que esse costume está sendo transferido para as novas gerações. Mas de onde vem essa tradição?
Bem, vamos lá… Meia noite e trinta e um minutos de segunda-feira passada, dia 21 de Junho. Solstício de inverno aqui no Hemisfério Sul. Foi quando o Sol, no seu movimento aparente (na verdade, é a Terra que oscila), atingiu o maior distanciamento na trilha norte.
É quando começa o nosso Inverno, mas também o momento significativo em que o astro-rei inicia sua lenta caminhada de “retorno” para o nosso lado do mundo.
As festas juninas já eram celebradas na Europa há muito tempo, muito antes da Era Cristã. Lá, o povo se alegrava com o Sol próximo, época de calor e de energia para a natureza, fornecedora de alimento. A fogueira era uma tradição pagã.
Os antigos romanos, em especial, comemoravam o solstício no dia 24 de Junho. Aos poucos, a festa se cristianizou. E a fogueira se tornou um símbolo poderoso da festa de São João, que o Evangelho diz ter nascido seis meses antes de Jesus.
A tradição chegou ao Brasil no Século 16, com os imigrantes portugueses, empenhados em honrar também Santo Antônio e São Pedro. Os balões, por exemplo, hoje proibidos em nosso país, vieram como herança cultural do norte lusitano.
O Brasil todo promove festas juninas, mas é certo que o Nordeste é o lugar onde os festejos são mais luminosos, ruidosos e saborosos. Depois que fui morar em São Paulo, fiz questão de passar o São João em Pernambuco, minha terra natal.
Se chegasse na noite da véspera, ou seja, no dia 23, já assistia, da janelinha do avião, um espetáculo absolutamente incrível, com milhares de fogueiras na região metropolitana e fogos coloridos que clareavam o céu.
O São João é a nossa cara, a cara do povo do Nordeste, que tem um senso de comunidade muito forte. Nessa época, famílias e vizinhos se unem para promover as festas. Um traz um doce; outro, uma iguaria salgada; um terceiro, a lenha; uma senhora pinta a molecada para dançar a quadrilha. É muito lindo ver essa generosa demonstração de vida coletiva. Todos colaborando. Todos celebrando juntos.
Essa ideia de festa com partilha e união sempre influenciou também as vendas do Bompreço, criado por João Carlos Paes Mendonça, empresa na qual trabalhei por 24 anos. Nessa época, as gôndolas dos mercados ofereciam produtos típicos, na área de alimentos ou de ornamentação. Os próprios funcionários se vestiam a caráter, camisa quadriculada e chapéu de palha, gerando interações divertidas com os clientes.
Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, são as capitais juninas do Brasil, com festas maravilhosas. Nelas, não pode jamais faltar a música de nosso querido mestre Luiz Gonzaga, que tão bem compreendeu a cultura de nosso povo.
Seu Januário
Venha ser o meu parceiro
Não esqueça da sanfona
Para animar o terreiro
Traga a famia’
Que nóis tem muito prazer
De dançar com suas fia’
Até o dia amanhecer
É uma pena que, em razão da pandemia de Covid-19, essas festas não tenham sido realizadas em 2020 e 2021. Negócios do mais diversos setores perderam muito em vendas e receitas, afetando fortemente a economia dessas regiões. Empregos sazonais oferecidos na época, desta vez, não foram gerados, reduzindo a renda das famílias.
Espero que o programa nacional de imunização avance rapidamente, com respeito à ciência e também aos cofres públicos, de modo que possamos logo retomar essas tradições, que alavancam a atividade empresarial e unem nosso povo em momentos de justa alegria compartilhada. Que os santos João, Antônio e Pedro intercedam por nós, povo brasileiro, e ajudem a fazer um 2022 de saúde, comemoração e prosperidade.